Páginas espaciais de saberes tradicionais


PRÁTICAS ESPACIAIS E DIÁSPORAS FILOSÓFICAS DE SABERES TRADICIONAIS EM COMUNIDADES DE MATRIZ AFRICANA. DIÁLOGOS ENTRE DOIS MUNDOS- ÁFRICA/ AFRO-AMAZÔNIA E AS INTERCULTURALIDADES.

Membras colaboradoras/ mediadoras : Profa. Dra. Joana Machado ( CEDENPA/ SEDUC-PA) ;  Fiama Góes Maués . Advogada- OAB/PA 32.291. Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Pará (PPGSA/UFPA).

No âmbito das lutas dos povos e comunidades de matriz africana pela manutenção, preservação e realização de suas práticas e saberes tradicionais milenares, esta linha de ação propõe a construção de um mapeamento etno-histórico e filosófico desses saberes a partir de seus múltiplos contextos. Busca-se demonstrar que a etnicidade desses povos transcende a identidade estritamente afro-religiosa, organizando-se enquanto comunidades tradicionais de matriz africana que disputam territorialidades e territórios nos espaços urbanos e rurais, marcados por diferentes limites e processos civilizatórios.

Esse mapeamento se apresenta como uma atualização histórica necessária, voltada à investigação de acervos africanos e tradições orais das Áfricas e do chamado Atlântico Negro, no marco de nossa "Amefricanidade", como bem nos orienta Lélia Gonzalez em seus apontamentos sobre os povos de matriz africana em diáspora em suas múltiplas situações históricas. Trata-se de um desafio que marca a História da Educação, da Filosofia, da Geografia e das demais ciências em que esses povos inscrevem e disputam saberes, considerando suas condições no tempo-espaço.

Tal perspectiva demanda o intercâmbio de produções de conhecimento entre a África e a Amazônia latino-americana. A proposta não é a reprodução de uma África originária ou mítica, mas sim a reconstrução de percursos, encontros e desencontros entre mundos africanos e amazônicos — contemplando rupturas, permanências e resistências.

Cartografar saberes envolve, igualmente, investigar a formação do pensamento filosófico na Amazônia, reconhecendo suas epistemologias nativas e questionando a predominância do espelhamento na tradição filosófica europeia, que raramente dialoga com a tradição africana. É necessário avaliar como as diversas Áfricas, em interação com os povos indígenas que já habitavam a região, constituíram modos plurais de conhecimento na Amazônia. Nesse sentido, emerge um espaço afro-diaspórico que compartilhou relações com múltiplos povos nativos.

A incipiência desse campo de investigação contribui para o epistemicídio do pensamento afro-amazônico, agravado pelo colonialismo interno. Tal apagamento torna-se ainda mais grave quando se trata das experiências e vozes de mulheres afrodescendentes. Em diferentes contextos africanos do passado, essas mulheres foram referências centrais de liderança, matriarcado e gestão política. Assim, o fortalecimento desse campo de estudos subalternos compromete-se com o exercício de descolonizar o saber científico e filosófico, recuperar a memória histórica e retomar a ancestralidade, afirmando uma consciência filosófica africana na Amazônia. Essa consciência precisa libertar corpo, mente, território, raça e gênero das invisibilidades, opressões e amarras ocidentais.