
FOTO DO DIA 26 DE OUTUBRO DE 2023. 1o Sessão Especial na Alepa de indígenas em Contexto urbano e periurbano. Uma demanda da organização do Fórum Parawara de indígena em contexto urbano, ribeirinho e rural.
Dos vivas pelos dias atuais de ( r) existência e na luta pela saúde mental . Kuekatu reté
ALANNA SOUTO CARDOSO TUPINAMBÁ

Quem é Alanna Souto Cardoso Tupinambá
Sou professora, pesquisadora e intelectual pública engajada na construção de uma "nova" cartografia histórica da Amazônia, dentro e fora da academia — e também de fora para dentro, rompendo os muros do colonialismo interno. Dedico-me a pensar, articular e investigar formas de conhecimento e práticas de saberes tradicionais socioespaciais que, com frequência, são escamoteadas dos mapas oficiais do Estado.
Meu campo político se faz no fazer científico e educacional — e também nas artes, em versos e prosas. Sou militante intelectual na formação de uma esquerda étnico-racial. Sou cientista, contista, cronista e poeta.
Amo a religião de umbanda — culto afro-brasileiro em sua diversidade e liberdade — e tenho reverência e identificação com a pajelança indígena e cabocla: um religare de liberdade. Escrevi, por um tempo, sobre umbanda. Atualmente, dedico-me ao diálogo, à produção científica e a ações em defesa do patrimônio histórico dos povos da Amazônia, em diversas frentes de trabalho — girando para as 8 linhas.
Nasci em 10 de abril de 1981. Sou neta da cabocla indígena ribeirinha de Mutuacá (Cametá), Tupinambá, Duvalina Silva, que criou 8 filh@s — parte deles junto com meu avô Santino, também ancestral de Mutuacá (Cametá), território de antigas confederações Tupinambá. Mudaram-se para o Moju com os filhos, e meu pai, ainda adolescente, com seus irmãos, deslocou-se forçadamente para Belém em meados de 1960–70.
Meu pai, Ademar da Silva Cardoso, formou-se contador competente, vindo dos mistérios das águas do Baixo Tocantins — território onde convivemos em vilas e comunidades ribeirinhas, no trabalho coletivo do mutirão, do puxirum/puxurum — variações que a memória da linguagem indígena de cada região preserva. Práticas nas quais convivemos e vivemos em território e comunidade até o último elo em vida de minha saudosa avó Duvalina Silva. Expressões de um povo que tentaram apagar e cujos registros oficiais foram sistematicamente dificultados, mas que permanecem vivos na memória, no corpo e nas formas de organização comunitária.
Meu pai é casado há cerca de 50 anos com minha mãe, Ana Célia Souto Cardoso, filha dos finados avós marajoaras Corina Nascimento (povos ribeirinhos de Afuá) e do preto velho Armindo Miranda Souto (Soure). Sou neta da antiga Aruã Mapuá (Afuá), da "nação" Nheengaíba — resistências de sítios ribeirinhos entre Chaves e o furo de Breves, do cemitério indígena e da memória viva dos finados indígenas do Marajó, das florestas para nunca esquecer de onde veio Afuá.
Nessa direção, declaro-me — e sou — uma mulher indígena Tupinambá em retomada, no contexto das violências étnicas e das racialidades encobertas de Mutuacá (Cametá) e da Boca do Ateua, no Moju, sem jamais esquecer os laços ancestrais da minha avó materna da antiga Aruã de Afuá. Das relações afroindígenas que não se perdem, mas se reafirmam como formas de resistência, continuidade e pertencimento coletivo — ainda que muitas vezes organizadas enquanto "caboclos ribeirinhos", fora dos territórios indígenas formalmente reconhecidos, mas afirmadas em territorialidades próprias, conforme suas formas de organização étnica e comunitária.
A vida não se reduz à fábula das "três raças". No meu caso, nomeio o racismo à amazônica, que parte do padrão branco e opera por hierarquias que pretendem comandar e dividir "índio" e "negro". Sou indígena das situações históricas e dos processos de desterritorialização dos povos indígenas de suas organizações de origem. Ao mesmo tempo, reconheço as camadas e tensões das classificações raciais: assim como o negro não retinto, com presença preponderante de avós pretos em sua vida — ainda que tenha algum bisavô indígena —, ser nomeado "pardo" e acoplado à identidade negra não apaga sua ligação com as antigas civilizações africanas no contexto afrodiaspórico do Atlântico Negro em Abya Yala.
Minha infância foi marcada por redes e bubuia à beira-rio, na casa de minha avó Duvalina e de parentes no rio Moju. Canoas, travessias, reviradas e sobrevivências; o mergulho profundo como a queda no canal — salva por uma bota que a licença poética me permite lembrar. "Tomar banho de canal quando a maré encher". São memórias das águas do Moju que também são memórias de território.
Considero-me uma mulher indígena no contexto dos processos históricos de desterritorialização, mas também de reterritorialização, reorganização e emergência das remanescências e dos remanescentes indígenas dos povos originários.
Não vivo da miséria da teoria — nem da teoria da miséria.
Minha utopia é a criação de uma universidade dos povos tradicionais.
Minha distopia é a morte cotidiana de nossa posição, de nossos lugares: sem privilégios e sem máscaras brancas, falecimentos precoces na contramão da nossa (R)existência.
Sou autora e idealizadora do blog SEMEADURA, disponível em https://semeadura.net , e membra fundadora, além de idealizadora, do Instituto de Pesquisa Projeto Cartografando Saberes – IPPCS, em https://www.instituto-cartografando-saberes.com
Adelante!

